#10 Uma casa para a escrita, um recomeço para mim
Uma carta sobre recomeçar: com silêncio, escrita e coragem.
Querido leitor, querida leitora,
Há pouco tempo, resolvi reler Orgulho e Preconceito. Queria um livro que fosse como um velho amigo, desses que a gente sabe que vai nos acolher, mas também nos cutucar no momento certo, sabe?
Foi então que reencontrei Elizabeth Bennet, sentada com um livro no regaço, tentando se concentrar enquanto ao redor todos jogavam animadamente cartas. E alguém, meio sem entender, lhe pergunta: "Prefere ler um livro a jogar baralho? Que estranho."
Confesso que ri. Um riso que era tanto de identificação quanto de alívio.
Ainda hoje, mais de dois séculos depois de Jane Austen ter escrito essa cena, seguimos precisando defender nossos momentos de mergulho silencioso no meio do burburinho do mundo.
Nos últimos meses, o meu mundo pessoal também virou um desses salões barulhentos.
Me separei em outubro. E, como acontece com toda grande ruptura, a vida virou de ponta-cabeça. Tudo ficou bagunçado: os sentimentos, a rotina, os planos, os móveis, as ideias.
No meio dessa confusão, precisei parar. Tirei um tempo para recalcular a rota. E, mais do que isso, precisei conhecer essa nova mulher que surgia.
Escrevi muito. Mas escrevi só para mim. Textos que não tinham obrigação de fazer sentido para ninguém além de mim mesma. Textos que não buscavam aplauso nem curtida, buscavam compreensão.
Só agora sinto que posso voltar a escrever para os outros. Porque só agora sinto que voltei (mesmo que diferente).
Esta newsletter é também sobre isso: sobre voltar. Sobre escolher, em meio à infinita possibilidade de distrações, sentar à beira de um livro — ou de uma página em branco — e perguntar: O que é que ainda pulsa em mim?
Espero que você me acompanhe nessa nova travessia. Ela promete menos barulho e mais verdade. Mais encontros, menos dispersão.
Até já,
Denise
Capitu Vem Para o Jantar
P.S.: Se puder, releia Orgulho e Preconceito. Às vezes, uma velha história nos dá exatamente a coragem que a vida nova pede.