#3 Jorge Amado e a vontade de comer o Brasil
O escritor brasileiro mais adaptado para o cinema e para a TV também dá a pinta no meu clube do livro.
O renomado escritor brasileiro Jorge Amado não cativou o meu coração apenas com suas histórias envolventes. É que as obras dele, repletas de personagens e cenários ricos em sabores e aromas, são verdadeiros tesouros para quem busca compreender a culinária e a cultura do nosso país. Em outras palavras, ler Jorge Amado dá uma baita fome.
Eu nunca me esqueci da descrição da Moqueca de Siri Mole. Essa receita que machuca o coração da protagonista em "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Afinal, era a receita que o finado marido amava. Ai, esse primeiro marido boêmio que morreu em pleno carnaval e que de repente dá pra saciar o apetite voraz de Dona Flor até lá do mundo espiritual (e aqui não estou falando de comida, se é que me entende).
Aliás, é muito interessante observar que o papel da comida em “Dona Flor” é também uma ferramenta sensacional para falar do apetite pelos prazeres da carne. E, afinal, quando falamos em prazer, não está tudo ligado?
Olha, o que eu sei mesmo é que “Dona Flor e Seus Dois Maridos” é o meu livro preferido do escritor baiano. Mas é verdade que a relação com a gastronomia permeia toda a obra de Jorge Amado.
Amado tinha o talento único de retratar a vida cotidiana do povo brasileiro de forma vibrante e autêntica. E a gastronomia sempre esteve presente em suas narrativas, desempenhando um papel significativo no desenvolvimento dos personagens e na ambientação das histórias. Seus romances nos apresentam uma miscelânea de pratos típicos, ingredientes regionais e tradições culinárias, que enriquecem a trama e nos transportam para os sabores do Brasil. É possível sentir o cheiro do acarajé fumegante das baianas, saborear a feijoada com todos os seus acompanhamentos e se deliciar com a cachaça e os quitutes típicos das festas juninas do interior do país.
O chef e pesquisador Max Jaques escreveu em seu livro “Comida no Cotidiano” que "ao escancarar a nossa diversidade, Jorge Amado nos atiça a pegar esse país cheiroso e diverso pelas mãos e se lambuzar de Brasil até escorrer pelo queixo". Não consigo pensar em melhor imagem para descrever a obra desse tão importante autor brasileiro.
É isso, sabe? Jorge Amado dá vontade de comer o Brasil.
Jorge Amado, Dona Flor e o Manjar do Literato
A essa altura, acho que você já sabe que eu criei um clube do livro chamado Manjar do Literato. É um clube onde a leitura ganha vida, e o paladar se conecta com as emoções que permeiam as páginas dos livros. É uma oportunidade única de compartilhar conhecimento, opiniões e descobertas literárias enquanto desfrutamos de uma refeição saborosa.
Se você é apaixonado por literatura, adora explorar novos sabores e deseja vivenciar momentos incríveis com pessoas igualmente apaixonadas por histórias, então precisa conhecer o Manjar do Literato. E adivinha só? Nesse mês vamos debater Dona Flor e Seus Dois Maridos.
As inscrições já estão abertas, mas as vagas são limitadas para que a experiência de cada um seja mais rica nos encontros ao vivo. Clique no botão abaixo para participar!
@SpoilerVinagrete
Apaixonada por literatura, você sabe que eu sou. Mas o negócio é que eu também amo de paixão o cinema, as séries e muitos programas de TV (principalmente os de culinária). É por isso que criei um outro projeto, um desmembramento do Capitu, por assim dizer.
É o @spoilervinagrete que surgiu com a proposta audaciosa de catalogar 1000 cenas emblemáticas do cinema que acontecem durante uma refeição. Eu estou me divertindo muito pesquisando as cenas. E espero que você goste também :)
Me siga lá no Instagram para acompanhar e para mandar a sua sugestão de cena! Clique aqui.
Dicas de Leitura
Reuni duas dicas incríveis para você que ama essa simbiose saborosa entre literatura e gastronomia. Olha só:
Já que eu falei bastante sobre Jorge Amado e o Manjar do Literato desse mês será sobre “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, então nada mais justo do que indicar um livro maravilhoso e que foi escrito por Paloma Jorge Amado. Filha, é claro, de Jorge Amado.
Em “A Comida Baiana de Jorge Amado”, ela reuniu todos os quitutes citados ao longo da obra do pai e nos presenteia com esse livro maravilhoso que é mais do que um livro de receitas, é um tratado sobre a culinária baiana pelos olhos de Jorge Amado. Amo, amo e amo.
Outro livro que eu precisava indicar para vocês é o “Comida é Memória”, da Jane Lutti. Antes de falar sobre ele, quero fazer inveja e contar que ganhei essa delícia de obra autografada pela autora. Chique demais, né?
Bom, como o nome diz, o livro fala sobre comida afetiva, aquela que nos lembra de uma pessoa querida, um lugar, uma viagem, uma situação inusitada. Com uma escrita acolhedora, Jane Lutti nos conta casos pessoais, mas que dialogam muito com a nossa vivência.
É impossível não se lembrar de situações que vivemos e que são recordadas a partir de um aroma ou um sabor. Eu acho que você vai amar.
Desejo a você uma ótima semana.
Até a próxima! 🖤