O último mês foi, como alguns poetas dizem, “tiro, porrada e bomba”.
Isso porque eu me mudei de casa. Se você já passou por um processo de mudança residencial, sabe que é preciso colocar várias frentes da vida no modo “soneca” só para conseguir dar conta da demanda de caixas e da muita poeira que juntamos em nossas gavetas.
A mudança aconteceu meio que de repente. Isso porque a proprietária da casa onde morávamos decidiu colocar o imóvel à venda. Como não tínhamos interesse em comprar e também não ficamos animados com a perspectiva de abrir a casa para receber a visita de possíveis compradores, decidimos ajeitar nossas trouxinhas e partir para uma nova aventura.
Como você pode imaginar, foi um processo cheio de altos e baixos e muita ansiedade, mas que no fim acabou sendo a melhor coisa que fizemos. Encontramos uma casa melhor, do lado de um parque - o que dará para nossa família mais qualidade de vida, e onde agora eu tenho quintal com plantinhas que alegram os meus dias. Tem manjericão, lavanda, alecrim e duas árvores frutíferas: pitanga e amora, e eu não vejo a hora delas darem frutos.
O negócio é que, diante dessa nova realidade, estava aqui lembrando dos dias turbulentos, cheios de crises de ansiedade e preocupações, quando eu não sabia se iríamos encontrar uma casa legal, se daria tudo certo com a mudança, se iríamos gostar da nossa nova rua, dos vizinhos, do bairro.
E agora que deu tudo certo e as coisas lentamente assumem um novo lugar, penso no tanto que essa mudança foi positiva. Hoje eu até coloquei um tênis e fui andar no parque, veja só. Me sinto mais leve, mais animada, mais solar. E, por consequência, mais inspirada. Ontem eu coloquei música alta na sala e dancei sozinha. E você não faz ideia quantos anos faziam que eu não me permitia isso.
Penso no tanto que eu tive medo dessa mudança, mas o tanto que ela era necessária e eu nem sabia. Penso também em outras mudanças importantes da vida que, por conta do medo, vamos evitando, evitando, evitando e transformando algo natural em um caminho espinhoso e lamacento.
Pensando na minha própria vida, consigo pensar em pelo menos três grandes mudanças estruturais de vida que eu sigo adiando. E você, qual é a mudança que você tem evitado?
Bolo para se sentir em casa
Lembro da frase de Clarice Lispector na crônica “Comer, comer”. Ela diz o seguinte: “Uma casa de família é aquela que, além de nela se manter o fogo sagrado do amor bem aceso, mantenham-se as panelas no fogo".
Por isso, só senti que estava verdadeiramente no meu novo lar, quando acendi o forno e fiz um bolo de laranja - o preferido do meu filhote Pedro.
Sentir o aroma de laranja se espalhando pela casa transformou de fato aquelas paredes e cômodos desconhecidos. Quando me sentei no sofá, rodeada de caixas, mas com um bolo de laranja no colo, consegui dar as minhas boas-vindas na casa nova.
Manjar do Literato - Como água para chocolate
De certa forma, toda essa experiência veio a calhar.
Combinou certinho com o Manjar do Literato desse mês que será, justamente, sobre “Como água para chocolate”, da Laura Esquivel, um livro que explora maravilhosamente bem a comida afetiva e a simbiose entre gastronomia e literatura.
Então, fica aqui o meu convite para você participar do nosso clube gastro-literário. Além de lermos “Como água para chocolate” e aproveitarmos conteúdos especiais sobre a simbologia da comida na história, também teremos uma palestra ma-ra-vi-lho-sa com a escritora Jane Lutti sobre, é claro, comida afetiva.
Bom, por conta de toda a bagunça da mudança, fiquei um pouco ausente lá no Capitu Vem Para o Jantar. Mas eu voltei. E cheia de ideias e ingredientes novos (já comentei que tenho lavanda e amoras e pitangas no quintal, né? hahaha).
Obrigada por me acompanhar até aqui.
Nos vemos em breve.
💛