#1 Livros, fast-food e crises de ansiedade
Como o primeiro mês do ano me fez refletir sobre a importância da literatura
Lido com crises de ansiedade desde a minha adolescência. Lembro de uma vez, quando tive um ataque de pânico no meio da rua, e certa de que estava enfartando - com apenas 21 anos -, pedi ajuda em uma padaria para que chamassem uma ambulância.
Lembro da vista escura, o aperto no peito, a tontura e a fraqueza. Um nó que amarrava minha garganta e quase me impediu de verbalizar: “en-far-tan-do”.
Um homem que tomava o seu pingado com pão na chapa foi o responsável por me acalmar. Checou meus batimentos cardíacos, me deitou no chão e depois de apenas alguns segundos, alertou: eu estava tendo um ataque de pânico.
Ele pediu que fizessem um suco de maracujá bem concentrado, sem açúcar, e me ajudou a cronometrar as respirações, calmamente, até que a crise amenizasse.
Aos 21 anos, eu estava prestes a me formar em jornalismo, vivia um ano difícil, soterrada em pesquisas e entrevistas para o meu TCC. Dormia mal, comia pior ainda e não lia nada além de livros que dialogassem com o tema do meu trabalho de conclusão de curso. A crise de pânico foi consequência disso.
Muitos anos se passaram, muitas crises de ansiedade e altos e baixos depois, até que chegamos aos meus 35 anos, especificamente em dezembro de 2022.
Quando tive outro ataque de pânico.
Desta vez, fui amparada pelo meu marido e meu filho de dois anos e meio que, sem entender nada, ficava subindo em cima de mim dizendo “mamãe tá dodói”.
Foi dolorido, foi angustiante. E, pra te dizer bem a verdade, só consegui entender um possível gatilho pouco tempo atrás.
Falta de leitura, talvez?
Além do que você vê ali nas redes sociais, tem muita coisa acontecendo por aqui. O programa que eu trabalhava como roteirista foi cancelado, minha cachorra Quitute está com suspeita de câncer no pâncreas e, por conta do trabalho, ano passado li muito menos do que gostaria.
Parece bizarro a criadora de um projeto de literatura assumir isso, eu sei. Mas, é a verdade. Me esgotei tanto com o trabalho que, no tempo livre, eu preferia dormir. A cabeça ligada o tempo todo, sendo bombardeada por reuniões e reuniões (a maioria que poderia ser resolvida por e-mail), não tinha condições de mergulhar em uma história nova.
Então, no Natal, eu ganhei o livro “Da Botica ao Boteco”, da Nely Pereira. Agora sem trabalho, com mais tempo para curtir o meu ócio, me recuperando da ressaca pós crise de pânico, eu deitei na cama e comecei a ler o livro.
E foi aí que alguma coisa começou a mudar.
Como a literatura tem me ajudado
(É importante deixar registrado que ansiedade é uma doença. E que a literatura por si só não resolve a situação. Eu sou amparada por psicóloga e psiquiatra. E se você tiver passando pela mesma situação, procure ajuda profissional)
Minha psicóloga me deu um exercício que ajuda muito.
Escrever listas.
Todos os dias de manhã, depois do meu café, eu anoto tudo o que preciso fazer ao longo do dia. Na lista estão desde tarefas importantes, como uma reunião de trabalho, até tarefas rotineiras, como colocar roupas na máquina de lavar.
Não é o ato de escrever a lista que ajuda com a ansiedade. É o ato de riscar as tarefas que já foram concluídas.
Não consigo explicar a satisfação que sinto ao encerrar o dia com todas as tarefas riscadas. Uma massagem cerebral para um cérebro ansioso.
Bom, te conto isso porque os livros ainda embalados na minha estante, organizados num cantinho, esperando a vez de serem apreciados, nada mais eram do que uma lista de coisas que eu queria fazer… e não tinha sequer começado.
Foi então que decidi: na lista de resoluções de Ano Novo, incluí “ler mais”.
Decidi que meu conteúdo lá no Capitu seguirá esta premissa e você saberá, ao ver um reels, ou um carrossel, que aquele conteúdo é desdobramento de uma “leitura-remédio” que ajudou a tratar a minha ansiedade.
Porque ao longo de janeiro, mergulhando em novas histórias, notei que a leitura distraiu minha mente de pensamentos ansiosos e me emprestou perspectivas diferentes sobre problemas e desafios.
Hoje é dia 30 de janeiro e morro de orgulho de dizer que, desde que o ano começou, li três livros incríveis que compartilho a seguir:
Da Botica ao Boteco
Gostei tanto desse livro que logo fiz um post no Capitu para indicar a leitura. Você viu? Caso tenha perdido, clique aqui para ler.
A jornalista e mixologista Néli Pereira parte da investigação de plantas, cascas e ervas nativas brasileiras para contar a história da coquetelaria. Como estas plantas saíram das boticas para fazer sucesso em drinks maravilhosos em botecos?
O Peso do Pássaro Morto
A obra de Aline Bei conta a vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias pessoais. Um livro curto, mas denso. Violento, mas poético. Me tomou de assombro e ainda estou com ele atravessado no peito. Em breve farei uma Receita Literária dele lá no Capitu.
Aos Prantos no Mercado
O livro da cantora de rock independente Michelle Zauner, se tornou um best-seller do New York Times e também entrou para a lista de melhores do presidente Barack Obama. Ela fala sobre o luto após a morte da mãe coreana, apaixonada por culinária e que cozinhava como ninguém. O livro se inicia no mercado, onde Zauner fica aos prantos ao se deparar com os ingredientes favoritos da mãe. Um livro tocante e que renderá com toda certeza uma Receita Literária para o Capitu.
LITERATURA FAST-FOOD, QUE DIACHO É ISSO?
Uma coisa que bombou no Twitter neste primeiro mês do ano foi o termo “literatura fast-food”. Nunca tinha ouvido falar no assunto e, intrigada, pesquisei para saber mais:
A literatura fast food é uma expressão usada para descrever obras literárias fáceis de consumir. A expressão "fast food" é usada para comparar essas obras com a comida rápida, que é fácil de obter e consumir, mas geralmente não é considerada nutritiva ou saudável.
Honestamente? Ainda estou - para usar um termo gastronômico - decantando esta informação. Achei um termo recheado de preconceito e estou planejando um vídeo sobre isso lá no Capitu.
VEM AÍ: MANJAR DO LITERATO!
Em março vou lançar uma experiência gastro-literária chamada Manjar do Literato. Trata-se de um clube de leitura para analisarmos juntos grandes obras a partir de um olhar culinário.
Estou muito animada com o projeto.
Teremos muitas histórias, receitas e convidados especiais para palestras incríveis.
Será um clube de assinatura mensal para que todo mês a gente consiga mergulhar em uma obra com o tempo e dedicação que ela merece!
Muito em breve te conto direitinho como vai ser, quanto vai custar, qual será a programação.
Mas, já fica aí esse spoiler pra despertar o interesse: o primeiro mês será sobre “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
Que tal?
Até a próxima! :)